Resenha: Liturgy – The Ark Work (2015)

“The Ark Work” é um álbum de dividir opiniões. Você já pode ter lido essa descrição uma dezena de vezes, mas este registro parece trazer dúvidas ainda mais profundas sobre a real qualidade presente aqui: mesmo aqueles que o classificam como ‘genial’ tem uma dificuldade em transcrever o motivo para terem chegado a isto, e essas respostas são as mesmas que faltam aos que o taxam como ‘horrível’. Mas afinal, o que instiga essas questões?

A trajetória anterior do Liturgy traz faces quase completamente distintas do que é ouvido aqui: enquanto “Renihilation” (2009) é cru, bruto e utiliza as características mais simplórias que o black metal pode apresentar; “Aesthethica” (2011) foi uma obra de evolução incrível desses aspectos, subestimando os fãs puristas que caíram alí de paraquedas, além de incrementar o lado extremo com elementos de noise e math rock.

Não sei se o passado da banda resultaria no que é apresentado aqui, ou se é tudo um lunatismo do seu líder pseudo-filósofo Hunter Hunt-Hendrix – aquele que outrora pregou o transcendentalismo e espiritualismo do black metal, seja lá o que isso quer dizer -, mas a absurda mescla de gêneros musicais é o ponto chave, e chega ao seu objetivo: o choque. A mistura de canto gregoriano, metal, art rock, hip-hop e música eletrônica não é de uma maneira convencional, tanto que a impressão é que houve uma “colagem aleatória” em cima de batidas pré-programadas, na maioria das vezes.

Essa colagem toda soa ridícula e estranha, ficando entre o orgânico e o artificial, mas parece que há algo oculto que me estimule a clicar no repeat após o final de cada faixa. Um exemplo claro disto é a canção single, “Quetzalcoatl”: com teclados medonhos, um blast beat repentino e o monótono vocal de Hunt-Hendrix, ela cresce de uma forma viajante e bela, por mais estranho que isso possa ser. “Vitriol”, que é praticamente um rap, impressiona pela falta de emoção, mas curiosamente é empolgante. O sentimento de amor-ódio aumenta ainda mais a cada audição, provando ao menos pra mim que esse é um dos trabalhos mais visionários dos últimos tempos.

Tracklist:
1. Fanfare
2. Follow
3. Kel Valhaal
4. Follow II
5. Quetzalcoatl
6. Father Vorizen
7. Haelegen
8. Reign Array
9. Vitriol
10. Total War

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